NOTÍCIAS
Seminário deu visibilidade a pacientes da saúde mental sob custódia, afirma Rosa Weber
18 DE JUNHO DE 2023
A presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, classificou o seminário internacional sobre saúde mental, realizado em Curitiba (PR), como um marco para o Poder Judiciário. De acordo com a ministra, que participou do encerramento do evento, além de visita ao Complexo Médico Penal do Paraná, na sexta-feira (16/6), os debates e as apresentações permitiram a visibilização das pessoas com transtorno mental em conflito com a lei.
“Este evento traz olhares da ciência, mas para a visibilização dos esquecidos e abandonados, dos desassistidos da humanidade, daqueles que nem mesmo por conta própria podem ou conseguem reivindicar os interesses mais elementares que lhes pertencem: estou a falar das pessoas com transtorno mental em conflito com a lei”, afirmou.
Em sua fala, a ministra Rosa Weber destacou que os manicômios judiciários tornaram-se espaços de prisão, nos quais a restrição da liberdade acontecia de modo perpétuo, com o conhecimento e, muitas vezes, a conivência do Judiciário. “Esse outro era o ‘louco’ que ‘praticava um crime’, mas que não cumpria uma ‘pena’. Aquele cenário etiológico e que se construiu à raiz de recortes do determinismo social e do biopositivismo tem que ser repensado. É isso que estamos a fazer, hoje, aqui, com o compromisso de soluções concretas e reais”, declarou.
Na cerimônia de encerramento, a ministra assinou um protocolo de intenções, representando o CNJ, com o Ministério da Saúde, para o fim de se implementarem medidas de abrangência e fortalecimento da Rede Nacional de Atenção à Saúde Mental em todo o país, como forma de se alcançarem meios concretos para a realização da Política Antimanicomial no Poder Judiciário. O acordo prevê, entre outras ações, o desenvolvimento de referências para a construção de um Plano Nacional de Desinstitucionalização, em condições de prever uma melhor qualificação e a própria diversificação do tratamento psiquiátrico em nosso país, em especial para confiá-lo a estabelecimentos sob a gestão e a responsabilidade do sistema de saúde, em casos de medidas de segurança, entre outras ações.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, fez pronunciamento ao vivo reforçando a importância das ações em parceria com o CNJ no tema em questão. “A reconstrução da saúde mental no Brasil vem com novos desafios, como a retomada dos Centros de Atendimento Psicossociais. Estamos convictos que o Brasil tem linhas de cuidados para avançar nesse tema”, disse a ministra Nísia Trindade.
A diretora do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Sônia Barros, representou a ministra da Saúde no ato da assinatura do protocolo de intenções.
Rede de saúde mental
O movimento de trabalhadores em saúde mental e os congressos e conferências nacionais de saúde mental foram lembrados pela ministra Rosa Weber em seu discurso de encerramento. “A Luta Antimanicomial foi fundada na premissa de que devemos investir e trabalhar por uma rede de saúde mental livre de manicômios e encontrou na promulgação da Lei 10.216/2001 as mudanças de paradigmas que levaram a Saúde Mental ao patamar de política pública e de direito humano fundamental”, destaco[u.
Na avaliação da presidente do CNJ, a Lei da Reforma Psiquiátrica assegurou a proteção, os direitos e o tratamento humanizado de pessoas em sofrimento mental. “A lei vedou a internação em manicômios e hospícios, além de priorizar serviços comunitários de saúde mental. O que se pensava como utopia tornou-se realidade, ao menos conceitual. O desafio, porém, é como realizar essa transformação”, alertou.
O caso Damião Ximenes Lopes foi lembrado pela ministra, por ter se tornado emblemático ao Brasil. Em 2006, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) responsabilizou o Estado brasileiro pela morte, em 1999, de um cidadão durante uma internação em clínica psiquiátrica. Ele foi sepultado com marcas de tortura e maus-tratos em seu corpo.
Entre as determinações da primeira condenação que colocou o Brasil no “banco dos réus” do Tribunal de São José da Costa Rica, ficou assentada a necessidade de se promover uma melhor capacitação dos profissionais com atuação na Saúde Mental. “O objetivo é nunca mais se repetir o que ocorreu diante de Damião Ximenes Lopes”, reiterou Rosa Weber.
A ministra também falou sobre a responsabilidade da Justiça nesse cenário. “Nós, juízes e juízas, somos os primeiros que devemos nos submeter e assimilar esses aprendizados e saberes específicos. Temos o dever de desmistificá-los, de decodificá-los e traduzi-los para a população sem sobressaltos ou alarmismos”, ressaltou.
A atuação do CNJ na temática foi destacada por Rosa Weber. Ela citou a Resolução CNJ n. 113/2010, que dispôs sobre o procedimento relativo à execução de pena privativa de liberdade e de medida de segurança. A norma prevê que a execução de medida segurança ocorra nos termos da Lei 10.216/01. A Recomendação CNJ n. 35/2019, por sua vez, indicou as diretrizes a serem adotadas para a promoção da atenção dos pacientes judiciários e a execução de medidas de segurança. Já em fevereiro deste ano, o CNJ editou a Resolução n. 487/2023, que instituiu a Política Antimanicomial do Poder Judiciário.
Avanço no judiciário
Em seu discurso, o presidente do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), desembargador Luiz Fernando Tomasi Keppen, afirmou que o seminário colaborou para o desenvolvimento do Judiciário. “É de suma importância caminharmos para uma política antimanicomial mais avançada, que efetive direitos fundamentais”, enfatizou.
O desembargador Ramón de Medeiros Nogueira, diretor-geral da Escola Judicial do Paraná (EAJUD-PR), fez um pedido para que o evento sirva à conscientização das políticas públicas no sentido da humanização de suas práticas.
Também participaram do encerramento, o corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, o conselheiro Mauro Martins, Supervisor do DMF, e a conselheira do CNJ Salise Sanchotene. O Presidente do Tribunal Federal da 4ª Região, Desembargador Ricardo Teixeira do Valle, a presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (TRT-9), Desembargadora Ana Carolina Zaina, a Procuradora-Geral do Estado do Paraná, Letícia Ferreira da Silva, o Secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto, a Secretária-Executiva do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Rita de Oliveira, e a representante da Organização Mundial da Saúde (OMS), Claudia Braga.
Reveja a cerimônia de encerramento do seminário
Texto: Ana Moura
Edição: Sarah Barros
Agência CNJ de Notícias
The post Seminário deu visibilidade a pacientes da saúde mental sob custódia, afirma Rosa Weber appeared first on Portal CNJ.
Outras Notícias
Anoreg RS
TRF-3 assegura nacionalidade provisória a criança nascida no Paraguai
19 de junho de 2023
A Sexta Turma do Tribunal Regional Federal da Terceira Região – TRF-3 confirmou sentença que garantiu...
Anoreg RS
Governo prevê contratação de 230 mil moradias em 2023
19 de junho de 2023
No Pará, Lula entrega 222 casas que tiveram obras paralisadas.
Anoreg RS
STJ: Seguro-garantia substitui penhora mesmo com oposição do credor
19 de junho de 2023
Relatora considerou que CPC equipara seguro-garantia ao dinheiro na substituição da penhora.
Anoreg RS
Artigo – Condomínio sem convenção: o que fazer? – por Thyago Garcia
19 de junho de 2023
Quais as consequências jurídicas de um condomínio que não possui uma convenção condominial? A simples...
Anoreg RS
Artigo – Usucapião: aspectos fundamentais e requisitos legais – por Amadeu Mendonça
19 de junho de 2023
Usucapião: muito além da regularização da propriedade. Descubra seus fundamentos, requisitos e as fascinantes...