NOTÍCIAS
Repositório eletrônico permite acesso confiável por longos anos a processos históricos
07 DE AGOSTO DE 2023
A primeira sentença registrada pela Justiça do Distrito Federal tem relação com o caso do roubo de um ferro de passar roupa. O juiz absolveu o réu – “cearense simples, humilde e sincero” – por falta de prova e a justificativa de sua decisão é uma ode ao respeito ao princípio constitucional (in dubio pro reo) de reconhecimento do direito do cidadão ser considerado inocente até que se prove o contrário. “O Estado que subestima ou persegue a inocência é o Estado relapso ou arbitrário, perverso e apóstata. E a Justiça que o serve, acumpliciando-se com atos de rebaixamento do cidadão, é a Justiça sem alma e sem coração, serva do despotismo ou das vãs cobiças, escrava dos outros ou de suas próprias fraquezas”, diz a sentença assinada pelo juiz Joaquim Souza Neto, da 1ª Vara Criminal do Distrito Federal em junho de 1960, dois meses depois da cidade ser inaugurada.
Considerado histórico, o processo é um dos que podem ser acessados a qualquer momento graças ao Repositório Arquivístico Digital Confiável (RDC-Arq), sistema digital de arquivamento criado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e vencedor do Prêmio CNJ de Memória na categoria Patrimônio Cultural Arquivístico, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A solução de arquivamento criada pelo tribunal do DF permite a guarda documental de longo prazo, de maneira gratuita, e em código aberto por meio dos softwares Archivemática e AtoM, garantindo a preservação digital de documentos de maneira íntegra, perene e segura, resguardando digitalmente a memória do Poder Judiciário do Distrito Federal.
O repositório digital nasceu da parceria entre o TJDFT e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), em um trabalho iniciado em 2018, e que já vem sendo seguido por outros tribunais do país, com a intermediação do CNJ.
História
De forma inovadora, o sistema conversa com outros sistemas e ferramentas digitais já utilizados pelo TJDFT, como o Sistema Eletrônico de Informações (SEI) e o Processo Judicial Eletrônico (PJe). Além do ambiente de arquivamento, o repositório possui funcionalidades que permitem a difusão dos materiais de maneira transparente e simples, possibilitando a pesquisa e o acesso por universitários, jornalistas, historiadores e demais cidadãos que se interessam pela história e cultura do Brasil.
O caso da menina Ana Lídia, que chocou Brasília na década de 1970, e o assassinato do jornalista Mário Eugênio (supostamente a mando do secretário de segurança pública do DF), em 1984, são alguns de importância histórica acessíveis pelo RDC-Arq.
Um dos pontos importantes do repositório é que, a longo prazo, a transferência para o repositório desses casos desafogará o PJe. O secretário de Gestão da Informação e do Conhecimento do TJDFT, Otacílio Guedes Marques, explica que, antes da criação do RDC-Arq, era complicado trabalhar com o arquivo da Justiça, fosse pelo tamanho, pela desorganização e até mesmo pela falta de salubridade.
Hoje, o arquivo é centralizado e digitalizado. Ele conta que, ao longo dos anos, têm sido eliminados processos não relevantes e mantidos os de importância histórica, seguindo as diretrizes contidas na Resolução n. 324/2020, que tratou das normas de Gestão de Memória e de Gestão Documental do Poder Judiciário.
Conhecimento e tecnologia
Otacílio destaca que, para garantir a segurança dos documentos digitais, é preciso investir em um sistema seguro, em praticamente um bunker. “O risco de perda do material digital é maior que os riscos com os documentos em papel porque digitalmente eles podem sumir. Seja por problemas de hardware, de software, ou mesmo de obsolescência”, diz o especialista.
A segurança dos dados é algo garantido pelo RDCArq já que o repositório é um ambiente de preservação dos processos judiciais digitais que respeita a Lei de Acesso à Informação (LAI) e a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). As informações históricas estão contidas no sistema e os dados pessoais privados estão protegidos.
Otimização de recursos
O arquivista explica que a correta digitalização e armazenamento foi um trabalho complexo, que não ocorreu da noite para o dia, mas seus ganhos compensaram o esforço. A medida impactou positivamente na economia do tribunal, que economizou mais de R$ 600 mil reais por mês com gastos em armazenamento físico. Ainda hoje existem cinco galpões que guardam esses documentos.
“Se não tivéssemos começado a digitalizar os documentos lá atrás, hoje teríamos de adquirir outros galpões, em um processo de guarda sem fim. Atualmente, nossa taxa de crescimento de documentos físicos é negativa. Muitos desses ainda estão sendo tratados e serão eliminados de acordo com a tabela de temporalidade”, diz o técnico judiciário.
Texto: Regina Bandeira
Edição: Jônathas Seixas
Agência CNJ de Notícias
The post Repositório eletrônico permite acesso confiável por longos anos a processos históricos appeared first on Portal CNJ.
Outras Notícias
Portal CNJ
Tribunal baiano aborda avanço em ranking de Sustentabilidade do CNJ
18 de julho de 2023
O avanço sustentável do Núcleo Socioambiental do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) no ranking do Índice de...
Portal CNJ
Qualificação da Justiça Juvenil segue em pauta de evento com juízes em Brasília
18 de julho de 2023
As oportunidades e desafios para atuação do Judiciário no sistema socioeducativo pautaram novas rodadas de...
IRIRGS
Clipping – Tribuna do Norte – Mercado imobiliário está atrativo para quem quer comprar imóvel
18 de julho de 2023
Com a oferta de novos lançamentos, as previsões do novo programa Minha Casa Minha Vida e de que a taxa...
Portal CNJ
Presidente do STF e do CNJ lançará no Amazonas a primeira Constituição Federal em língua indígena
17 de julho de 2023
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Rosa Weber,...
Portal CNJ
Câmara de Conciliação no Pará contribui com recuperação financeira de superendividados
17 de julho de 2023
A vida de Maria*, 73 anos de idade, virou de cabeça para baixo quando ela se aposentou. A servidora pública viu...