NOTÍCIAS
Violência política de gênero: Brasil registra sete casos a cada 30 dias
07 DE DEZEMBRO DE 2022
A violência política contra a mulher passou a ser tipificada como crime em agosto do ano passado, quando foi sancionada a Lei n. 14.192. Desde então, somente o Ministério Público Federal (MPF) contabilizou, até novembro de 2022, 112 procedimentos relacionados ao tema. Em 15 meses, a cada 30 dias, ocorreram sete casos envolvendo comportamentos para humilhar, constranger, ameaçar ou prejudicar uma candidata ou mandatária em razão de sua condição feminina.
Nas eleições deste ano, registrou-se um crescimento de 18% na bancada feminina na Câmara Federal. Foram eleitas 91 deputadas, contra 77 em 2018. Do total 513 parlamentares, apenas 17,7% são mulheres. No Senado, com um total de 81 cadeiras, elas perderam duas e ocuparão dez (12,3%) a partir de 2023. E, entre os 26 estados e o Distrito Federal, apenas Rio Grande do Norte e Pernambuco serão governados por mulheres.
Apesar de corresponder a 52% da população, a baixa representatividade feminina explicita a estrutura conservadora de uma sociedade patriarcal e misógina. “O ambiente político ainda é muito tóxico para as mulheres, que são comumente ofendidas, humilhadas, ameaçadas e desrespeitadas exclusivamente em razão da sua condição feminina”, afirma a ministra substituta Maria Claudia Bucchianeri, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ela ressalta que a violência política contra as mulheres é um dos principais fatores apontados por estudiosos para a reduzida presença feminina política. A situação é ainda mais aguda, observa a ministra, quando envolve a mulher negra. “São inúmeras as parlamentares negras que demandam proteção especial para si e suas famílias para que possam exercer seus mandatos, dado o volume de ameaças que recebem exclusivamente em razão da política e de sua condição de mulher negra”.
Ao criminalizar a violência política de gênero, a Lei n. 14.192/2021 vai contribuir para mudar o cenário e abre, no país, um momento de transição de uma cultura de normalização para uma cultura de criminalização, na avaliação de Maria Claudia. “Transitamos de um extremo ao outro e essa passagem exige debates e esclarecimentos e demanda o advento das primeiras decisões e responsabilizações. A lei ainda é muito jovem e nós estamos fazendo uma mudança de cultura”.
A ministra observa que o crime de violência política contra mulher atinge um bem jurídico que vai muito além da honra subjetiva da ofendida e atinge a normalidade e legitimidade de uma disputa eleitoral. “Ele atinge, em última instância, a integridade do exercício do mandato político, comprometendo a própria democracia”.
União de esforços
Para sensibilizar e informar a sociedade sobre os variados cenários da violência de gênero contra meninas e mulheres, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promove ações por meio de parcerias com entidades da sociedade civil e órgãos públicos com a campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, realizada entre 21 de novembro e 10 de dezembro. A campanha se inspira em ação mundial iniciada em 1991, intitulada “as mariposas”, em homenagem às irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, assassinadas, em 1960, na República Dominicana. Submetidas às mais diversas situações de violência e tortura, entre elas, o estupro, as irmãs foram silenciadas pelo regime ditatorial de Rafael Trujillo, no dia 25 de novembro de 1960.
Para a procuradora regional da República e coordenadora do Grupo de Trabalho Violência Política de Gênero da Vice-Procuradoria-Geral Eleitoral, Raquel Branquinho, é bastante positiva a presença da pauta da violência política de gênero na sociedade brasileira e nas instituições no decorrer de 2022. “Isso demonstra que estamos discutindo o problema, mas sabemos que é uma realidade difícil de superar de uma hora para outra”. Os dados sobre procedimentos abertos desde a sanção da Lei 14.192/2021 foram levantados a partir do GT.
Neste ano, o TSE e a Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) firmaram um protocolo que estabelece prioridade para condutas e ritos processuais para casos de violência política contra mulher. Foram abertos canais para recebimento de denúncias nos portais online dos órgãos e foi criada a taxonomia para registro das representações, além de treinamento para operadores do sistema de justiça eleitoral para que analisem os casos a partir de uma perspectiva de gênero.
Segundo Raquel, a conjuntura, composta por uma nova lei e maior presença da mulher na política, incide no aumento da identificação da violência. “A violência sempre ocorreu e é histórica. O processo pode parecer lento, mas precisa ser enfrentado”. Ela afirma que o Brasil está evoluindo bastante no aspecto legal e no aspecto jurisprudencial, sendo inclusive considerado como referência na América Latina com a Lei nº 14.192/2021.
A procuradora destaca o desenvolvimento de trabalho junto aos partidos políticos, ainda que alguns se mostrem resistentes. “O partido é um mecanismo de inserção democrática da representatividade feminina na política”. Segundo ela, o cumprimento da lei exige mudanças nos estatutos para contemplar medidas de prevenção e repressão à violência política.
Pioneirismo
O primeiro caso julgado de violência política contra a mulher com base na Lei nº 14.192/2021 foi registrado na cidade de Pedreiras (MA). O caso ocorreu na Câmara Municipal, onde um vereador arrancou o microfone das mãos de uma colega enquanto ela discursava.
A presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE-MA), desembargadora Ângela Salazar, diz que é fundamental mudar a realidade caraterizada pela baixa participação da mulher na política, principalmente da mulher negra. “Temos que avançar no combate à violência política de gênero e no combate ao racismo, que são caraterísticas de uma sociedade fundada no patriarcado e no racismo”.
Texto: Jeferson Melo
Edição: Sarah Barros
Agência CNJ de Notícias
The post Violência política de gênero: Brasil registra sete casos a cada 30 dias appeared first on Portal CNJ.
Outras Notícias
Portal CNJ
Plano Estadual de Alternativas Penais agora é Política Pública no Acre
30 de dezembro de 2022
O Acre deu um importante passo para o fortalecimento da política de alternativas penais no Estado. Foi sancionada a...
Portal CNJ
Com adesão do CNJ, Judiciário debateu violência contra mulheres em 21 dias de ativismo
30 de dezembro de 2022
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) engajou o Judiciário na promoção de diversas ações durante a campanha...
Portal CNJ
Judiciário do Amapá se envolve em ação social para população em situação de rua
30 de dezembro de 2022
Solidariedade, empatia e união de esforços resultaram na distribuição de 50 kits de higiene e um grande café da...
Portal CNJ
Acordo com universidade amplia acesso à Justiça Federal do Paraná
30 de dezembro de 2022
A diretora do Foro da Subseção Judiciária de Guarapuava, juíza federal Marta Ribeiro Pacheco, participou na...
Portal CNJ
Centro municipal de Salvador é parceiro em projeto de casamentos LGBTQIA+
30 de dezembro de 2022
A Corregedoria Geral de Justiça (CGJ) do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) firmou parceria com o Centro...